Os disruptores endócrinos (DEs) são substâncias químicas exógenas ou mistura de substâncias químicas, que interferem com qualquer aspecto da ação hormonal.
Pessoas e animais entram em contato com os DEs de várias formas:
• consumo de alimentos e água, através da pele;
• por inalação e pela transferência da mãe para o feto (através da placenta) ou da mãe para o bebê (através da lactação).
A exposição pode ocorrer em casa, no escritório, no campo, no ar que respiramos, nos alimentos que comemos e na água que bebemos.
Das centenas de milhares de substâncias químicas fabricadas, estima-se que cerca de 1000 podem ter propriedades de ação endócrina. Alguns exemplos comuns de DEs incluem:
• DDT e outros pesticidas;
• bisfenol A (BPA) e ftalatos, utilizados em produtos infantis, produtos de higiene pessoal e em recipientes para alimentos.
Além dos DEs conhecidos, suspeita-se da existência de inúmeros DEs ou de substâncias químicas que nunca foram testadas. O mais famoso dos DEs é o bisfenol A, presente em diversos plásticos e embalagens. Em 2011, a ANVISA proibiu a presença desta substância nas mamadeiras, pelo risco que representa para as crianças, mas ela continua presente em latas de refrigerantes e outras embalagens.
Evidências científicas apontam que a exposição aos DEs leva a desequilíbrios hormonais e está relacionada a diversas doenças endócrinas e não-endócrinas em crianças e adultos:
Reprodutivas/endócrinas: puberdade precoce, criptorquidia, hipospádia, câncer de mama, câncer de próstata, endometriose, infertilidade, diabetes, obesidade e distúrbios tireoidianos;
Imunes/autoimunes: suscetibilidade a infecções, doenças autoimunes;
Cardiopulmonares: asma, doenças cardíacas, hipertensão, infarto;
Cerebrais/nervosas: mal de Parkinson, mal de Alzheimer, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dificuldades de aprendizado.
Ainda não se sabe qual a quantidade necessária de disruptores endócrinos para causar danos à saúde humana. Entretanto, estudos apontam que quantidades ínfimas já teriam a capacidade de causar danos. Os primeiros anos de vida, especialmente vida fetal e infância, são um período de muita vulnerabilidade, sendo consideradas as principais janelas temporais de suscetibilidade à influência dos DEs. Desse forma, é de fundamental importância tentar preservar gestantes, crianças e adolescentes da exposição exagerada a essas substâncias.
É praticamente impossível prevenir 100% da exposição, dada a onipresença dessas substâncias no nosso ecossistema, mas medidas práticas constituem:
• Consumir alimentos orgânicos sempre que possível;
• Preferir alimentos da época, que costumam ter menor exposição a agrotóxicos.
• Lavar bem e descascar frutas e vegetais;
• Retirar a gordura visível da carne e a pele do frango antes do preparo (pesticidas podem se acumular nessas estruturas);
• Substituir tábuas e recipientes de plásticos utilizados no preparo e armazenamento de alimentos por tábuas, recipientes e potes de vidro temperado;
• Evitar o uso de pesticidas no ambiente doméstico, escolar e em creches;
• Não aquecer alimentos em recipientes plásticos no micro-ondas. O calor potencializa a transferência de substâncias químicas para os alimentos;
• Evitar a exposição de crianças pequenas a brinquedos e mordedores de plástico.
Dra. Mirela Miranda
Endocrinologista da Clínica Move